Apesar de a gagueira ser conhecida há milênios, a medicina ainda não desvendou as suas causas nem uma forma de curála. Porém tem feito avanços para amenizar as manifestações do problema. A sua última invenção é um pequeno aparelho portátil chamado SpeechEasy, disponível há quase dois meses no Brasil. Semelhante a um dispositivo para surdez, ele também é colocado no interior do ouvido. Mas, em vez de captar outros sons, é regulado para devolver ao usuário o som da sua própria voz ligeiramente modificado e com um leve atraso. Com as mudanças, o portador da gagueira tem a impressão de ouvir outra pessoa falando simultaneamente. Isso cria o que os especialistas chamam de efeito coral. "Quando os gagos falam em uníssono com outros indivíduos, o distúrbio desaparece", explica a fonoaudióloga Bianca Jorge, de São Paulo, que assessora a empresa importadora do aparelho. Esse processo tem sido estudado pela Universidade da Califórnia (UCLA).
O acessório portátil não cura a gagueira e tampouco elimina a necessidade de tratamento com um especialista, mas pode ajudar bastante. O bibliotecário paulistano Roberto Tadeu da Silva, 38 anos, por exemplo, recorre a ele nas horas mais difíceis. Uma delas foi a defesa de tese. "Falei com tranqüilidade mais de uma hora sem ter receio de gaguejar. Foi um grande auxílio", diz Roberto. Infelizmente, uma revisão de artigos científicos alertou para o fato de que o SpeechEasy e outros dispositivos para recriar o tal efeito coral (existem outros maiores, que não são portáteis) não oferecem o mesmo grau de eficácia para todas as pessoas que têm o distúrbio e é difícil prever quem se beneficiará. O aparelho só pode ser comprado com a autorização de um fonoaudiólogo e custa caro - cerca de R$ 9,9 mil.
De qualquer forma, o surgimento de equipamentos como esse é um sinal da mudança ocorrida na compreensão da gagueira na última década. Se antes era atribuída a fatores emocionais, hoje se sabe que há mais motivos. "Identificamos fortes componentes genéticos e alterações em áreas cerebrais ligadas ao ritmo e início da fala", disse à ISTOÉ Gerald Maguire, da UCLA, um dos mais renomados pesquisadores do tema.
Fonte: Revista Isto É.
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