Brincadeiras: Telefone sem fio

Uma brincadeira coletiva que desenvolve a audição, a concentração, a oralidade e a memória

Muito além da fala. Uma brincadeira coletiva que desenvolve a audição, a concentração, a oralidade e a memória. Brincadeira coletiva que desenvolve a audição, a concentração, a oralidade e a memória. O primeiro da fila cochicha no ouvido do amigo mais próximo uma palavra ou frase. Este faz o mesmo com o seguinte, e assim por diante. O último diz em voz alta o que entendeu, e a graça está aí: geralmente é bem diferente daquilo que o primeiro falou.

 

Caso a criança tenha dificuldades para falar, o trabalho da fonoaudióloga é primordial para o desenvolvimento da criança. Se a criança demora a dizer as primeiras palavras, fala pouco ou troca as letras, os pais, preocupados, levam ao fonoaudiólogo. Embora boa parte das pessoas só lembre desse profissional nessa hora, seu papel vai além: começa no nascimento, quando checa a audição do bebê, e segue na infância, ao corrigir de dificuldades para engolir a distúrbios de leitura e escrita. E mais: auxilia no aprendizado de quem tem dislexia e no desenvolvimento da linguagem entre os autistas. Tudo, enfim, que se relaciona à comunicação. 'E falhas nessa área prejudicam a vida social da criança', diz a fonoaudióloga paulista Flávia Ribeiro. O garoto que não fala certo pode transferir os mesmos erros para a escrita. De quebra, ele ainda é alvo de piadas dos colegas - igual destino daqueles que gaguejam. Com tanta pressão, há criança que pára, de repente, de falar. É o que explica Tyuana Sandim da Silveira Sassi, fonoaudióloga da USP, em Bauru.

O trabalho do fono começa ainda na maternidade, com a triagem auditiva neonatal, feita nas primeiras 48 horas de vida do bebê. Chamado de teste da orelhinha, o exame é obrigatório em algumas cidades, como Rio de Janeiro e Campinas. Coloca-se no ouvido do recém-nascido uma sonda pequena, com espuma ou borracha na ponta, que emite um som e capta a resposta do ouvido da criança. Caso algo anormal seja detectado, é feita uma avaliação auditiva completa.

Há cerca de seis anos, algumas escolas também fazem esse teste nos alunos. 'Os colégios estão mais atentos à questão', diz a fonoaudióloga Simone Boacnin, de São Paulo. O melhor, porém, é não esperar pela fase escolar: crianças com distúrbios na audição têm melhor desenvolvimento se o problema for identificado e tratado antes dos 6 meses de vida. É o médico quem determina se o tratamento será feito com aparelho de amplificação sonora individual ou por cirurgia, indicada em alguns casos. A reabilitação e a regulagem dos aparelhos são trabalho, novamente, do fonoaudiólogo.

Palavras na ponta da língua
Os problemas mais comuns decorrentes da deficiência da audição são os distúrbios de linguagem: a criança demora para falar as primeiras palavras ou quase não se expressa. 'Não existe estatística, mas observa-se que a queixa aparece mais em relação aos garotos do que nas meninas', afirma a fonoaudióloga Simone. O normal é que, no final do primeiro ano de vida, ela seja capaz de dizer frases de uma palavra; no segundo ano, duas; e, aos 3 anos, sentenças mais completas, com pelo menos três palavras.

Percebeu algum problema? O primeiro passo é verificar se a criança ouve bem. Se a falha não está na audição, pode ser, então, algo orgânico - que costuma ter tratamento - ou relacionado ao comportamento. 'Pais muito protetores não dão chance ao filho de falar: para que ele vai se esforçar se não precisa?', afirma Simone.

Outro transtorno bem costumeiro é a troca de letras, que pode ter conseqüências, posteriormente, também na escrita. 'É o que se chamava de linguajar 'tatibitate'', diz a especialista Flávia Ribeiro. As crianças aprendem primeiro os fonemas que usam a parte da frente da boca, como o 'mã', de mamãe, e 'pá', de papai. Os fonemas em que a língua vai para o fundo da boca saem por último, como o 'quê' e o 'guê'. Por isso, aos 4 anos, ainda é normal, por exemplo, encontrar quem diga 'tola' em vez de 'cola'. Aos 5, já deve pronunciar todos os fonemas corretamente. Se isso não acontecer, é bom procurar o especialista. Afinal, quanto mais cedo ela conseguir dizer 'eu amo você' sem erros, melhor.

Na hora da refeição
O jeito de comer também é outro foco de atuação do fono, em diferentes fases do crescimento. Nos bebês prematuros em que os músculos da boquinha ainda não estão desenvolvidos o suficiente para que consigam fazer a sucção, o fono ajuda fazendo movimentos que estimulam a área, fortalecendo o músculo. Assim, o recém-nascido consegue mamar no peito em vez de se alimentar pela sonda, ganha peso e tem alta do hospital mais rápido.

Quando o período de amamentação termina e as comidas fazem parte da rotina, alguns meninos e meninas demonstram dificuldade para engolir ou mastigar. Isso acontece porque a língua é grande demais, eles não respiram direito ou não sabem posicionar a boca e os dentes ao mastigar. O tratamento tem efeito positivo principalmente na nutrição: a criança começa a ter prazer em comer e se alimenta melhor.

O especialista também costuma atuar em parceria com a ortodontia, quando o garoto precisa usar aparelho nos dentes para corrigir um ou outro problema. O fono pode ajudar em duas frentes: melhorar a musculatura da boca - e evitar que a língua empurre os dentes para a frente - ou adequar a forma de morder, como a mordida cruzada, por exemplo. 'Se esse trabalho não for feito, ao retirar o aparelho, as chances de recidiva são muito grandes e todo o esforço em se usar o acessório deixa de ser eficaz', completa a fono Simone.

 

Os principais problemas que a fono pode resolver
Linguagem
A criança demora para dizer as primeiras palavras ou fala muito pouco. Pode não conseguir contar uma história ou os relatos não têm começo, meio e fim. Com 1 ano, o bebê deve ser capaz de formular palavras soltas, como 'bola'. Com 2 anos, começa a fazer justaposição: 'dá bola'. Aos 3 anos, é comum formular frases com pelo menos três palavras, como 'me dá a bola'.
Articulatório
É a troca das letras ao falar. Até os 4 ou 5 anos, é normal a criança não conseguir pronunciar alguns fonemas, como os considerados mais complicados. Mas depois dessa idade, se ela ainda comete erros, é melhor procurar um profissional.
Distúrbio de leitura e escrita
Troca de algumas letras ao escrever. Pode ser decorrente de uma troca nos fonemas. Por exemplo, ela lê 'carro', mas pronuncia 'calo'. A dislexia se encontra nesse grupo, porém é um distúrbio de aprendizagem mais complexo e grave, que não envolve apenas fonemas específicos, mas também a forma de aprender.
Motricidade oral
São problemas na musculatura da face, da boca ou da língua, como dificuldade para engolir, mastigar ou respirar. A causa pode ser língua ou lábios grandes, posicionamento errado da língua ou respiração incorreta (feita pela boca).
Voz
Assim como os adultos, as crianças podem ter problemas com a voz, como a rouquidão. Entre as causas estão problemas orgânicos, diagnosticados pelo médico. Mas, em geral, isso acontece quando seu filho grita muito e, assim, perde a voz. O fono trabalha na mudança do comportamento da criança, para que aprenda a modular melhor isso.
Deficiência auditiva
Três de cada mil crianças nascem com perda auditiva, que pode comprometer sua capacidade de comunicação. Por isso, é importante realizar, ainda na maternidade, o teste da orelhinha. O tratamento até os 6 meses de vida aumenta as chances de a criança ter uma audição mais próxima da normalidade.
Gagueira
Até 4 ou 5 anos, é normal a criança gaguejar um pouco ou demorar mais a falar, pois ainda está aprendendo. Nessa fase, não se deve chamar a atenção para a questão, porque isso causa ansiedade e aumenta a probabilidade de uma gagueira efetiva no futuro. Também não é indicado que os pais completem as frases. Isso só resulta em mais nervosismo.

 

Bê-á-bá sem erros: como ajudar seu filho

 
Pegue leve na papinha. À medida que ele cresce, acrescente alimentos sólidos na dieta. Se aos 5 anos os pais ainda amassam a comida ou fazem apenas sopinhas, a musculatura da mastigação não é treinada e a criança pode ter dificuldade para falar depois.
Cuidado com a chupeta. O ideal é não usar, mas se não houver jeito, prefira as ortodônticas, que não atrapalham o desenvolvimento dos dentes. No entanto, se a criança usa a chupeta por muito tempo, os músculos da face podem ser prejudicados. Por volta dos 2 anos, já é indicado deixá-las de lado.
Converse, converse, converse. Para estimular a fala, nada melhor do que um bom bate-papo ou uma gostosa narração de histórias. Incentive seu filho a fazer os próprios relatos e preste atenção quando for a vez de ele se expressar.
Dose extra de paciência. Em vez de corrigir e constranger seu filho, dizendo que ele falou errado, dê o modelo certo. Não estimule o tatibitate, por mais bonitinho que seja o pequeno falando 'tota-tóia'. A partir de 4 ou 5 anos, ele já deve ser capaz de falar corretamente. No caso da gagueira, é preciso ainda mais paciência: pedir calma ou completar as frases só piora a situação.

 

O que fazer se...
Sua filha estiver atrasada no processo de fala e outras funções, como andar.
Isso pode ser sinal de um atraso no desenvolvimento neuromotor. Além do fono, para avaliar o problema de fala, é importante consultar também um pediatra.
Resposta à dúvida da leitora Rosenilda Rodrigues Ramos, Lisboa, Portugal

A criança não pronuncia a letra 'R'.
Se ela tem mais de 4 anos, é preciso procurar um fonoaudiólogo para avaliar isso. Antes dessa idade,é normal que a criança não consiga pronunciar todas as letras da maneira certa.
Resposta à dúvida da leitora Glacy Gladys Leão, Curitiba, PR

Seu filho não consegue falar as palavras corretamente: em vez de colo, diz 'tolo', em vez de água, fala 'oda'.
Até os 2 anos, algumas crianças ainda fazem a troca do 'quê' por 'tê' e do 'guê' por 'dê'. De qualquer forma, é importante que os pais dêem o modelo correto, sem dizer, explicitamente, que a criança está errada. Se ela demorar muito a aprender, procure um especialista.
Resposta à dúvida da leitora Luciana Souza, Jundiaí, SP

 

 

 

Consultoria: Flávia Ribeiro, fonoaudióloga

 

 

 

 

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