Estima-se que uma a cada cinco crianças no mundo, em torno de dois anos de idade, serão afetados por distúrbios no ouvido médio, ou otite de ouvido médio, que é um acúmulo de líquido na câmara do ouvido que produz mal-estar, dor, perda auditiva e até vertigem. Até o momento pesquisadores achavam que este problema comum em crianças era causado porque os infantes possuíam suas “Trompas de Eustáquio” (o tubo que liga o ouvido médio para o nariz e parte de trás da garganta) muito curtas (comparados aos dos adultos), facilitando que fluídos de infecções do trato respiratório superior fossem para o ouvido médio, causando as repetidas crises de otite média.
Segundo estudo conduzido pelo King’s College de Londres e publicado em março deste ano na revista Science, afirma que esta não seria a única razão para as repetidas crises de otite média na infância. Os pesquisadores, que descobriram como o ouvido médio é desenvolvido, afirmam que o problema estaria relacionado com a formação do processo de desenvolvimento do ouvido médio e das células que o constituem, que fundamentalmente parece ser defeituoso, não permitindo que estas células sejam capazes de limpar o ouvido de forma eficaz na infância.
De acordo com os pesquisadores, no desenvolvimento do ouvido médio, o epitélio derivado da endoderme na formação da tuba auditiva, do tímpano e dos cílios (fundamental para limpar infecções do ouvido médio), nos mamíferos, são formados por dois tipos de tecidos: “endoderme” e “células da crista neural” A parte formada pela crista neural carecem de cílios tornando o ouvido médio vulnerável a infecções.
Sobre o Estudo
Os estudos, que foram realizados em camundongos, permitiram os cientistas descobrirem que o processo de desenvolvimento do ouvido médio – que forma um espaço cheio de ar e que abriga os três ossículos responsáveis por carregar as vibrações sonoras do tímpano para o ouvido interno – é diferente em aves e répteis, que possuem apenas um pequeno osso no ouvido. Eles também descobriram que as células que revestem a cavidade do ouvido médio são provenientes de dois tipos de tecidos diferentes – “endoderme” e as “células da crista neural”. A parte proveniente da endoderme é coberta por um gramado de cílios que ajudam a limpar os detritos do ouvido. Mas o revestimento derivado das células da crista neural não tem cílios, fazendo com que o ouvido médio seja menos eficiente na sua limpeza e tornando-o em si vulnerável a infecções.
Segundo os pesquisadores, os mamíferos evoluíram para este novo mecanismo para a criação deste espaço cheio de ar, justamente para abrigar os ossos adicionais. Isto indica que o processo de dois tipos de células distintos para criar o revestimento da cavidade do ouvido médio pode estar ligado com a evolução dos três ossos de som condutores minúsculos. “Se o processo de evolução dos mamíferos permitiu criar espaço no ouvido para os três ossículos essenciais para a audição, o mesmo processo tornou o ouvido propenso a infecções – é uma falha evolutiva”, afirma a Dra. Abigail Tucker, do Departamento de Desenvolvimento Craniofacial do Institute King’s College de Londres, uma das coordenadoras da pesquisa.
O trabalho que foi financiado pelo Conselho de Pesquisa Médica do Reino Unido (UK Medical Research Council) e publicado em março deste ano na revista Science, afirma que os resultados são contrários, a tudo o que se pensava e conhecia sobre o desenvolvimento do ouvido médio – em todos os livros se descreve que a mucosa do ouvido médio é feito de endoderme e formado a partir de uma extensão de outra parte do ouvido médio a Trompa de Eustáquio. Segundo a coordenadora da pesquisa, os livros deverão ser reescritos.
Dra. Abigail Tucker, do Departamento de Desenvolvimento Craniofacial do Institute do King’s College London, disse:. "Nosso estudo descobriu um novo mecanismo de como o ouvido médio se desenvolve, identificando uma possível razão por que ele está propenso à infecção, que está ligado ao processo de desenvolvimento a partir das células da crista neural. No qual estas células que constituem parte do ouvido médio parecem fundamentalmente defeituosas, visto que estas células não são capazes de limpar a orelha de forma eficaz”.
Referência: Hannah Thompson and Abigail S. Tucker. Dual Origin of the Epithelium of the Mammalian Middle Ear . Science , 2013; 339 (6126): 1453-1456 DOI:10.1126/science.1232862
Fonte: King’s College London
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